Atividades
de Língua Portuguesa – 8º ano – Professora Carolina –
Referente
ao período de 04 a 08/05
Olá, alunos!!!
As atividades dessa
semana serão as seguintes:
>Copiar o conto abaixo
As cocadas, de Cora Coralina;
>Copiar e responder as questões, e explicações, das fotos 1, 2 e 3;
>Após a conclusão das
atividades você deve enviá-las por foto;
>E para finalizar a
semana você deve pensar em alguma receita que goste e saiba fazer. Caso não
saiba, peça ajuda a alguém de casa. Grave um vídeo fazendo a receita e o
resultado final.
>Os registros devem ser postados
no grupo do facebook ou enviados pelo whats, até 08/05 (sexta)
As Cocadas
Eu devia ter nesse tempo dez anos.
Era menina prestimosa e trabalhadeira à moda do tempo. Tinha ajudado a
fazer aquela cocada. Tinha areado o tacho de cobre e ralado o coco. Acompanhei
rente à fornalha todo o serviço, desde a escumação da calda até a apuração do
ponto. Vi quando foi batida e estendida na tábua, vi quando foi cortada em
losangos.
Saiu uma cocada morena, de ponto
brando atravessada de paus de canela cheirosa. O coco era gordo, carnudo e
leitoso, o doce ficou excelente. Minha prima me deu duas cocadas e guardou tudo
mais numa terrina grande, funda e de tampa pesada. Botou no alto da
prateleira.
Duas cocadas só... Eu esperava quatro
e comeria de uma assentada oito, dez, mesmo. Dias seguidos namorei aquela
terrina, inacessível. De noite, sonhava com as cocadas. De dia as cocadas
dançavam pequenas piruetas na minha frente. Sempre eu estava por ali perto,
ajudando nas quitandas, esperando, aguando e de olho na terrina. Batia os
ovos, segurava gamela, untava as formas, arrumava nas assadeiras, entregava na
boca do forno e socava cascas no pesado almofariz de bronze.
Estávamos nessa lida e minha prima
precisou de uma vasilha para bater um pão-de-ló. Tudo ocupado. Entrou na copa e
desceu a terrina, botou em cima da mesa, deslembrada do seu conteúdo. Levantou
a tampa e só fez: Hiiii...
Apanhou um papel pardo sujo, estendeu
no chão, no canto da varanda e despejou de uma vez a terrina.
As cocadas moreninhas, de ponto
brando, atravessadas aqui e ali de paus de canela e feitas de coco leitoso e
carnudo guardadas ainda mornas e esquecidas, tinham se recoberto de uma penugem
cinzenta, macia e aveludada de bolor.
Aí minha prima chamou o cachorro:
Trovador... Trovador... e veio o Trovador, um perdigueiro de meu tio, lerdo,
preguiçoso, nutrido, abanando a cauda. Farejou os doces sem interesse e passou
a lamber, assim de lado, com o maior pouco caso.
Eu olhando com uma vontade louca de
avançar nas cocadas.
Até hoje, quando me lembro disso,
sinto dentro de mim uma revolta – má e dolorida – de não ter enfrentado decidida,
resoluta, malcriada e cínica, aqueles adultos negligentes e partilhado das
cocadas bolorentas com o cachorro.
CORALINA, Cora. As cocadas. In:
Conto com você – vol.2 – Coleção Literatura em minha Casa, São Paulo, Editora
Global, 2003 (PNBE 2003).